Acabei de desligar o telefone. Do outro lado da
linha estava minha avó – que eu chamo de mãe como, eu acho, toda avó
deveria ser chamada – desliguei e pela cabeça me passaram lembranças
que quase não as reconheço como minhas. Lembrei-me de quando cheguei à
cidade grande, das coisas que me chamaram a atenção e das tantas
outras que me deixavam tenso. Achava estranho que toda a gente
estivesse com pressa, mas andassem em separado, em direções diferentes
– é que em minha terra só se tem um evento por vez e, quando há, com
ou sem pressa, todo mundo vai junto pra o mesmo lugar; e como achava
irritante dar um bom dia e não ouvir nada como resposta. Aquilo me
deixava contrariado!!! Hoje deixa um pouco menos... E percebo então
que a boa educação - a boa mermo! – é aquela que consegue ignorar a
falta que ela faz no outro.
Desliguei o telefone e fui desligado pra a janela
dar uma conferida no céu. Céu escuro, nublado, pesado, denso... Tempo
feio, pensei!
-Alô?! Mãe? Sô eu.
-E puracaso eu não sei?!
-Bença, mãe!
-Que Deus te abençoe, ilumine e lhe dê vergonha...
-Tá tudo bem, mãe? Como estão as coisas?
-Tá sim, meu fio. Tá chuveno! Céu bonito! Tempo fechado! A chuva
parece que vai dar uma estada mais demorada por aqui... E aí? Como tá
o tempo?
- Tá bonito, mãe... Tá bonito!
(...)
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